Qual o futuro do associativismo português?

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Nas primeiras décadas do século passado, os portugueses que emigravam para a América procuravam os clubes e associações e mesmo a igreja para casar e arranjar emprego. Era nos bares que se discutiam salários e condições de trabalho e nas missas que repousavam os primeiros olhares nas raparigas bonitas. A língua afastava os portugueses das jovens americanas e para muitos, o estar ilegal era uma forte limitação.

Os anos foram passando e, felizmente a segunda geração evoluiu. Os jovens luso-americanos estudaram, formaram-se e integraram-se mais rapidamente no sociedade americana. Actualmente, os portugueses na América orgulham-se de ter uma herança muito forte. Advogados, políticos, médicos, engenheiros, arquitectos, artistas preenchem a moldura da descendência portuguesa, perfeitamente adaptados e integrados.

Contudo, os clubes e associações não evoluíram, não acompanharam. Infelizmente.

Clubes como a Casa do Minho e o Ferreirense vivem impasses directivos. A casa do Ribatejo enfrenta problemas que levam mesmo à não realização da assembleia geral por falta de quorum e outros clubes como o Gafanhense, depois de sucessivas reuniões, alertados pela possibilidade de encerramento encontraram soluções, que lamentavelmente mais não são que um adiar de algo que parece óbvio. O associativismo poderá ter os dias contados.

Na passada semana o Luso Americano dava conta também do encerramento do emblemático clube de Mount Vernon. Um dos principais problemas notados nas diferentes reportagens levadas a cabo nos clubes portugueses em Newark, foi a notória falta de participação dos sócios nas reuniões decisivas das organizações.

Na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro participaram 23 sócios, o ano passado foram 26. Na Casa do Minho cerca de 40 sócios não encontraram uma saída para a crise directiva. No Gafanhense eram cerca de 30 os associados, na Casa do Ribatejo o número não chegou para que a assembleia se realizasse. Zee Oliveira nova presidente do Gafanhense referiu que “têm que se criar condições para os jovens voltarem aos clubes. Esta associação perdeu fulgor porque não foram criadas condições para atrair a juventude. Quando entramos nos clubes, quando vamos às assembleias vemos que as novas gerações não estão representadas, isso só pode ser alterado com novas actividades que possam atrair as segundas e terceiras gerações de jovens, só assim os clubes podem sobreviver”. Esta situação levanta uma questão óbvia, os clubes não se preocuparam com a sucessão, com a criação de actividades que atraíssem a juventude. As novas gerações não se compadecem com um jogo de sueca, as novas gerações procuram novas rumos, as páginas de facebook ou o Karaoke são mínimos para essa geração “ tecnológica”.

Perante esta realidade ganha cada vez mais forma a ideia de que um centro comunitário poderia ser a solução. Por certo muitos dos “velhos do Restelo” mostrar-se-ão contra a mesma, mas a realidade tem que ser apresentada nua e crua, os clubes e associações portuguesas caminham para um verdadeiro buraco sem fundo. Muitos podem ter encontrado uma solução para este ano, mas as caras são sempre as mesmas e o cansaço, a família e a realidade dos dias de hoje começam a pesar nos ombros daqueles verdadeiros heróis que mantêm essa chama de Portugalidade.

Mas também há quem culpe os heróis da lusitanidade que mantiveram vivos os clubes durante décadas. “Os clubes vão morrer com eles, porque não acreditam nos jovens,” dizia esta semana um desses jovens ao Luso-Americano.

Os clubes necessitam de sangue novo, mas esse sangue novo só virá se os mesmos abrirem a sua porta aos desígnios da modernidade com vista a atrair novas gerações por certo orgulhosas do seu passado , mas ávidas de descobrir os caminhos do futuro.